anthypophora 1
A
imagem responde à pergunta, tornando redundantes as palavras que se
seguem; a uma tal repetição que visa recapitular os argumentos dá-se o
nome de anacephalaeosis. Se a repetição se seguisse a uma
digressão (excursus) seria uma epanodos. |
Usos da interrogação: na antipófora ela vem imediatamente
acompanhada pela resposta, ou então sucede-lhe no caso da
publicidade faseada. |
anthypophora 2
Neste
outro exemplo de pergunta respondida pela imagem existe opção, mas não
há dilemma, (v. infra) porque a solução binária do
problema afigura-se óbvia.
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erotema 1
A
pergunta retórica é de efeito seguro porque prende a atenção do leitor e
obriga-o a pensar, muitas vezes em vão, na resposta que consideraria
mais apropriada. |
Mais ousada é a pergunta
retórica, que não pretende obter qualquer resposta mas tão
somente um efeito de interpelação. |
erotema 2
Aqui
também se tratava de uma pergunta sem intenção de obter qualquer
resposta, mas o processo foi desvirtuado pela sequência do texto que
fornece uma resposta gratuita. Um exemplo de infeliz macrologia
(palavras despropositadas).
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aenigma
A
solução do problema fica a cargo da perspicácia do leitor, já que não
são dadas quaisquer pistas na imagem que apenas ilustra a questão - que
não se colocou em modo interrogativo. |
O enigma é de todas as perguntas
a que exige mais reflexão do leitor, a par do dilema, que o
coloca perante uma escolha difícil, em geral porque ambas
as saídas são igualmente desfavoráveis. |
dilemma
Como
o produto não pode ser tido como desfavorável por parte do cliente, o
dilema tem de ser redireccionado para um terceiro supostamente em
conflito com este (neste caso a mãe). |
dulcis in fundo
Há
aqui um efeito de sentido suspenso, ao usar-se uma frase aparentemente
negativa mas que completada ou explicitada se revela positiva. É o
oposto do escorpiónico in cauda uenenum, tão bem usado por
Voltaire. Note-se que não há segundos sentidos (silepses), já que todas
as expressões são usadas no seu sentido próprio. |
Usos da concessão: com estes processos
causa-se suspense e capta-se a benevolência do leitor, surpreendendo-o
com as cedências
feitas: compõem este conjunto o dulcis in fundo, a sincórese, a
paromologia e a antanagoge. |
synchoresis
A
concordância da sincórese é real, concedem-se de facto alguns argumentos
fortes à concorrência, que se contrastam com o seu próprio argumento (o
preço). |
paromologia
O
argumento maior é neste anúncio uma hipérbole: o carro é tão
amplo que o seu espaço interior equivale ao de uma casa. O processo
contrasta com a sincórese em que os dois pontos têm igual força, havendo
que abdicar de um para obter o outro (dilemma positivo). |
Na paromologia, ou
falso acordo, há um ponto menor ou ridículo de que se abdica,
realçando assim a força do argumento maior. |
antanagoge
As
vantagens finais do produto só são ilustradas pelos defeitos
da sua alternativa. Não sendo exactamente como ir ao cinema, o leitor de
DVD pode ser um bom sucedâneo, pois está isento dos defeitos do seu
«concorrente». |
Na antanagoge dá-se uma feição positiva a algo que, não
obstante, se reconhece como negativo, mais difícil ou mais fraco
(Lat. compensatio). |
adianoeta
Nesta
adianoeta procede-se a uma paraenesis (aviso de perigo iminente).
É uma imagem violenta e não-comercial. O duplo sentido é veiculado pelo
duplo código: a imagem fornece uma interpretação não óbvia da locução, e
este é um dos usos mais explorados da adianoeta. |
Usos da ironia: alguns usos da ironia envolvem quer a
adianoeta (ou alusão) quer a apodioxe que cita um argumento de
outrem apenas para o rejeitar como absurdo ou nulo. |
apodioxe
Neste caso, a imagem é apresentada como tipo dos autores da afirmação
que se pretende ridicularizar e que pela sua própria comicidade resulta
numa refutatio ab fonte, usando o ataque pessoal contra o próprio
modelo, ou falácia do argumentum ad hominem - asserção
comprometida pelo ethos do seu autor. |
enthymema
O
bem-estar (segurança) é apanágio deste carro (premissa maior omitida); o
carro custa x contos (premissa menor, afirmada pelo contexto); a
segurança da família vale portanto x contos (conclusão expressa no
início). |
Usos do silogismo e do paralogismo (falácias): muito comum na
argumentação, o entimema é um silogismo truncado, em que a premissa
maior está omissa. O paralogismo é um falso silogismo, com falsas
premissas e/ou falsas conclusões. |
paralogismo
Aqui
a premissa maior, falsa, é a de que a imagem da batata é igual às
batatas «reais», e se a imagem está seca, logo as batatas estarão
secas. Esta falácia da identificação do ícone com o seu referente
enquadra-se na falsa analogia. Como se pede uma verificação
táctil no suporte (papel) trata-se também de uma metapublicidade. |
adagium 1
Um
dos recursos mais comuns é o da alteração dos provérbios, que passam
assim a paravérbios. O leitor reconhece a modificação efectuada
aceitando o novo sentido obtido com a inovação, que neste caso é
contrário ao inicial. Este anúncio é uma publicidade faseada e
corresponde à sequência do exemplo apresentado abaixo, em
"metapublicidade 3". |
Usos de truísmos, provérbios, paravérbios e expressões idiomáticas:
ainda que só surtam efeito numa língua, este é sempre garantido já que
vai ao encontro das referências culturais do público. |
adagium 2
O
uso inalterado do provérbio neste exemplo resultou infeliz pois a
presença do sinistro sinal de perigo - «obras na estrada» -representa um
forte contratempo para os automobilistas, o que lhes deixa no ar a
dúvida se a nova ponte será o grande remédio ou o grande mal
inicialmente referidos.
|
aphorismus
O
anúncio joga também com um equívoco argumentum ex auctoritate,
dado o estatuto ignoto (ignaro?) da sua suposta fonte. A penúltima frase
termina com uma anáfora (100% vegetais, 100% naturais), que é
também uma tautologia retórica - repetição desnecessária da mesma
ideia por palavras diferentes (não confundir com a tautologia lógica). |
Usos da semântica: o aforismo questiona ou afirma o uso
correcto de um termo, ou a adequação de um nome próprio ao seu portador. |
infantilismus
Este
recurso é bastante perigoso, pois comporta um efeito caricatural perante
as restantes camadas sociais, neste caso geracionais e se o jovem sentir
que o seu argot está a ser exposto com essa intenção reagirá
negativamente. No final do texto, o efeito de ampliação da vogal é uma
diástole, e constitui também outro infantilismo. |
Usos dos níveis de
língua: a exploração do argot, calão, dialectos e socioletos
define com grande precisão o público visado. |
onomatopoeia
A
onomatopeia aplica-se a verbos e nomes, mas também à simples reprodução
de sons tão usada na bd. O anúncio explora a antítese
entre os volumes dos ruídos produzidos pelo tambor e os gerados pelo
produto publicitado, uma máquina de lavar pratos. Também caracteriza
negativamente o comportamento infantil, adoptando um topos dos
anúncios das máquinas de lavar roupa (as crianças sujam mais roupa que
os progenitores). |
Usos da fonética: as onomatopeias são palvras compostas a
partir dos sons do objecto que designam, constituindo assim os únicos
signos motivados das línguas humanas, ou «palavras naturais», se tal não
fosse uma contradictio in adiecto. |
.parasitismus
Ao contrário do plágio, que é a imitação
servil das formas, cores ou settings de outros anúncios mas com
leitura independente, as peças publicitárias parasitas só adquirem
sentido face a outras anteriores, bem mais conhecidas do público. Aqui
parafraseiam-se as embalagens de tabaco da marca Marlboro (o nome
Malchollo é argot espanhol, língua original do anúncio, que significa
«má percepção») e sobretudo os avisos de consequências nefastas do
produto obrigatórios nas campanhas publicitárias de marcas de tabaco,
com a intenção de combater a concorrência dos sucedâneos de acessórios. |
Usos de outros
anúncios: o recurso a outros anúncios releva do parasitismo
ou então tem por fim a corrupção da peça publicitária visada. |
corruptio
A
corrupção de um anúncio é a forma hostil da sua reprodução (paráfrase),
e constitui igualmente uma sub-espécie de parasitismo. São
adoptados elementos gráficos de outros anúncios a fim de evocar a
mensagem original pervertendo-a de forma sarcástica
(insultuosa). Neste caso parafraseiam-se o estilo gráfico das campanhas
Benetton, bem como a própria designação da marca. Este antianúncio,
que procede a uma bdelygmia ou ataque violento, é apenas um
exercício de estilo de um criativo e não uma verdadeira peça
publicitária. |
metapublicidade 1
Estamos
perante metapublicidade quando a mensagem do anúncio incide sobre ele
mesmo em primeiro lugar, e só depois sobre o produto. O conjunto
imagem/texto constitui-se num universo fechado em que os seus
elementos se remetem mutuamente. |
contextualização
Este
exemplo interage com os restantes elementos da sua página - não
confundir este processo com os casos em que estes são forjados, fazendo
parte de um suposto exterior do anúncio (veja-se um exemplo em
"iconismo", recursos do texto e da imagem.
Trata-se sempre de uma apropriação de contexto, e daí a
necessidade de compensar esse abuso com um encómio.
|
.metapublicidade 2
Esta
é uma antítese obtida após uma paráfrase
verbal condescendente, não hostil mas emuladora. Faz-se
referência caricatural aos lugares-comuns que se encontram nos
anúncios para os perfumes da concorrência, e afirma-se a originalidade
do próprio produto «comprovando-a» com a do anúncio, servindo-se para
tanto do seguinte paralogismo: estética do anúncio=produto,
anúncio é inovador, logo o produto é inovador. Mais uma vez a falácia da
falsa analogia neste exemplo de metapublicidade que reflecte sobre
os topoi.
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Usos do próprio anúncio: uma referência aos elementos
restantes da página, ou presentes no espaço que o circunda
(contextualização), ou uma referência intratextual, ou ao seu suporte
material, ou à sua concepção e objectivos, ou a qualquer das suas
próprias características compõem a metapublicidade. |
metapublicidade 3 Originalmente
dispostos nos lados exteriores de duas páginas confrontantes, a questão
retórica (erotema) faz referência à direcção do olhar do modelo e à
localização contrastante da rapariga e do automóvel (assimilados
pela anfibologia (estrutura da paginação e disposição gráfica) e pela
silepse do «precisa». Símile do carro com a namorada, enquanto objectos
de posse e manipulação que conferem prestígio ao seu proprietário? |