Um livro sobre o espólio do filósofo alentejano, onde também se publica a correspondência com Delfim Santos.
“Um Génio Português: Edmundo Curvelo (1913-1954), Coimbra: Imprensa da Universidade, 2013“, da responsabilidade de Manuel Curado e José António Alves (este último já co-editor, com Filipe Delfim Santos, da publicação do carteio dos jesuítas bracarenses para Delfim Santos), vem apresentar ao leitor um dos grandes filósofos portugueses da primeira metade do século XX. Estamos a falar de Edmundo Curvelo. Além disso, o livro revela vários inéditos recolhidos no espólio do autor português e a correspondência que manteve com alguns intelectuais nacionais e estrangeiros.
Os espólios revelam-se extremamente importantes para os investigadores na hora de estudar a vida e a obra dos autores que já não estão entre nós. Se esta afirmação é em geral verdadeira para todos os autores, muito mais a é quando se trata de um autor que faleceu jovem e com uma obra ainda em desenvolvimento. Nos espólios poder-se-ão descobrir elementos que ajudam a compreender melhor a obra publicada, ou a alargar o conhecimento sobre aquilo que ficou por fazer, ou a conhecer os tópicos que o autor não teve eventualmente tempo para desenvolver, ou os textos inéditos que ele pensava publicar… Um pouco de tudo isto se descobriu no espólio de Edmundo Curvelo: projectos editoriais que ele não teve tempo de concretizar, textos inéditos que revelam os cuidados pedagógicos que tinha na hora do trabalho com os seus alunos, apontamentos bibliográficos, relatórios, correspondência, interesses e registos literários explorados pelo autor e desconhecidos do público: por exemplo, a escrita de poesia (quem imaginaria que um lógico se dedicaria a escrever poemas, mas Vieira de Almeida também o fez!), e ainda livros, separatas de artigos seus e de outros autores. Como se vê, a diversidade de documentos é imensa e rica para o conhecimento e avaliação da obra do filósofo alentejano. O trabalho de Manuel Curado, professor na Universidade do Minho, e José António Alves, investigador também na Universidado do Minho, dá-nos conta de todos estes elementos.
Nos espólios, um dos elementos extretamente importante é sempre a correspondência. O livro edita a correspondência entre Edmundo Curvelo e Noémia Cruz, com quem casou, com Joaquim de Carvalho, ilustre professor de Coimbra, historiador da filosofia e diretor da Revista Filosófica, com Delfim Santos, filósofo e pedagogo português, e com alguns autores estrangeiros, nomeadamente Alonzo Church, Stephen Kiss, René Poirier, William Montague.
De todo o epistolário, aquele que consideramos mais significativo é o que o autor alentejano manteve com Delfim Santos. Este diálogo está longe de ser um diálogo circunstancial e sobretudo os dois filósofos não se coibem de expressar as suas divergências, permitindo ao leitor compreender melhor os pontos de vista filosóficos de cada um deles em relação à psicologia. Indubitavelmente um diálogo a não perder e a não deixar de explorar por todos os interessados na cultura filosófica portuguesa.
Mourão Jorge
Sociedade Portuguesa de Filosofia