arnaldo saraiva resenha a correspondência jorge de sena / joão gaspar simões

SINAIS DE FOGO

(…) o livro recente “Jorge de Sena/João Gaspar Simões – Correspondência 1943-1977“, com organização. estudo introdutório e notas de Filipe Delfim Santos e com o subtítulo “Incluindo o Carteio de Mécia de Sena”.

Percebe-se mal o que fazem as cartas de Mécia neste volume, com o mesmo destaque das de Simões ou das de Jorge de Sena, e integrais (não citadas ou resumidas só em notas), para mais sendo posteriores, salvo uma, às dos dois escritores, não tendo o valor literário delas e não trazendo nenhuma luz relevante às dos correspondentes ou às suas relações. Assim, além de servirem um protagonismo deslocado, cumprem as comuns finalidades das cartas e de algumas anotações de Mécia, onde às vezes há queixas ou queixinhas contra este ou aquele e contra a pátria, retorcidas distorções e ressentidos ajustes de contas. O curioso é que o volume exclua textos que poderiam iluminar a “correspondência” mas também a longa “incorrespondência” entre os dois escritores. A enorme desproporção entre as dezenas de páginas concedidas ao que Gaspar Simões escreveu – quase sempre favoravelmente – sobre Sena e as duas páginas concedidas ao que Sena escreveu sobre Simões até ficaria atenuada com a inclusão de “invetivas” ou de “sátiras”, a que se refere uma rapidíssima passagem do “estudo introdutório”; mas nem há cheiro de nenhuma das várias publicadas ou estranhamente impublicadas “dedicácias” de Sena que implicam Gaspar Simões; o leitor fica assim sem saber, por exemplo, que Sena chegou a nomear o famoso crítico como “Gaspões”, ou “Simar Gaspões”, e a rir-se dele por ser… cornudo, como se riu de Mário Cesariny por ser homossexual.

(…)

A carta agora publicada tem uma nota de Filipe Delfim Santos que refere o meu texto do Expresso, acrescentando “cujas motivações Mécia de Sena aqui aclara”. Assim mesmo: “aclara” – e como. O anotador não me ouviu nem leu, bastou-lhe a claríssima versão de Mécia, que sempre soube encontrar delfins que nunca põem em causa o que ela diz e que dizem o que ela quer que seja dito.

Texto integral em Arnaldo_Saraiva_Resenha_Simoes_Sena_10_08_2013