jorge de sena e o grupo da “filosofia portuguesa”

Fernando Fava é um dos estudiosos a incluir Jorge de Sena entre os frequentadores da tertúlia de Álvaro Ribeiro:

http://books.google.co.nz/books?id=7NyLiZYBXbcC&printsec=frontcover&dq=inauthor:%22Fernando+Mendon%C3%A7a+Fava%22&hl=pt-PT&sa=X&ei=_9T7TsqPH82KmQW2hviUAg&ved=0CCsQ6AEwAA#v=snippet&q=Sena&f=false

Fava não indica o café da tertúlia, mas António Quadros Ferro indica dois cafés sucessivamente:

“…depois do encerramento compulsivo da Faculdade de Letras do Porto, Álvaro Ribeiro e José Marinho, dois discípulos de Leonardo Coimbra naquela instituição, vêm para Lisboa e iniciam, primeiro no Café Palladium e, depois, na Brasileira do Rossio, uma tertúlia onde, para além de António Quadros, Afonso Botelho, Orlando Vitorino, Pinharanda Gomes e António Braz Teixeira, também apareciam ocasionalmente, os poetas Adolfo Casais Monteiro, Jorge de Sena, Ana Hatherly, Natália Correia, entre muitos outros. A verdade é que não cabiam na Universidade, nem em número, nem em pensamento“.
(A ideia de Deus em Sampaio Bruno, offline)

A história dos primórdios da tertúlia alvarina contei-a no artigo que publiquei no ano passado sobre o delfiniano ‘Colóquio Inútil’ no n.º 8 da Nova Águia: a frequência do Palladium atesta-se na correspondência pelo menos desde 1942 e realizavam-se, a partir desse ano, jantares mensais na Charcutterie Française. O início das tertúlias não aconteceu pois imediatamente à chegada a Lisboa dos pensadores portuenses mas sim quando, em Lisboa, se lhes juntaram Miguel Summavielle e Eudoro de Souza.

É importante sabermos se Jorge de Sena frequentava as tertúlias da ‘filosofia portuguesa’. Creio que o carteio que alimentou com Delfim Santos documenta que sim, que evidentemente frequentaria o Palladium pois a ele alude. Porém, pelo que também das cartas se infere, cedo se teria apartado desse convívio. Na correspondência com Delfim Santos sente-se o afastamento de Jorge de Sena perante a filosofia portuguesa quando ainda eles reuniam no Palladium nos anos 40, certamente já não os acompanhou na migração do Palladium para a Brasileira do Rossio onde por exemplo J.A. França me disse nunca se lembrar de ter lá posto os pés em toda a sua vida, sendo ele um assíduo frequentador da Brasileira do Chiado.

É dos inícios dos anos 50 – 04/03/952 – a carta de Jorge de Sena onde são veementemente atacados os integrantes da ‘filosofia portuguesa’: “- …todo o meu patriotismo (que o tenho) se revolta contra estas filosofias portuguesas” e onde Delfim Santos é criticado por não se ter afastado suficientemente do grupo. Parece-me pois que há motivo para investigar os limites da frequência por Jorge de Sena da tertúlia de Álvaro Ribeiro.

Por sua vez Delfim Santos terá frequentado o Palladium inicialmente (onde se documenta o seu encontro com Jorge de Sena numa das cartas) e mais tarde a Smarta, um outro café / restaurante de Lisboa que aparece na correspondência dele com várias personalidades, nomeadamente no recém-publicado carteio com os jesuítas bracarenses (vd. abaixo). Ninguém diz, e creio que bem, que Delfim Santos tenha jamais comparecido na Brasileira do Rossio, numa altura em que ele também não alimentava relações doutrinárias com o grupo enquanto tal, apenas de amizade com os seus membros individualmente.

Espero pois que o António Quadros Ferro ou o Fernando Fava ou quem souber algo sobre o assunto nos possa esclarecer esta dúvida sobre Jorge de Sena poder ser contado entre os contertúlios daquela que foi sem dúvida uma das mais famosas e longevas tertúlias portuguesas do séc. XX.